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A inflexão principal desta guinada de um profissional antes e depois do que chamo desse curso de inovação disruptiva é a capacidade de perceber E SENTIR que a realidade é líquida, mutante, incerta, que exige um esforço de não acomodação e pede humildade para que os pontos de vista se somem, através do diálogo, para ver melhor algo sempre turvo.

Ontem, comecei o trabalho com a quarta turma do Laboratório de Inovação da IplanRio.

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(Pode ver o andamento do projeto aqui).

O primeiro encontro (veja detalhes no áudio) dedicamos à discussão filosófica do que é a realidade, que, a meu ver, é a base principal de controle e dominação da mentes das pessoas, que impede qualquer pensamento abstrato e, por consequência, pensar inovação, ainda mais inovações disruptivas.

Os alunos que chegam em todas as minhas aulas há 7 anos, da Iplan e fora,  trazem uma visão clara, formada pela atual escola, de que:

  • Há uma realidade lá fora;
  • E cada um tem uma percepção DIFERENTE desta MESMA realidade.

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Isso nos leva a um problema grande, pois se há uma realidade lá fora, algumas pessoas, por princípio, podem estar mais ou menos perto DESTA realidade.

Obviamente, que cada pessoa se considera mais perto dela e por isso passa a ser dona de uma posição mais perto da verdade, ou de alguém que está mais perto dela.

É tipo um pequeno dono da verdade, pois consegue estar em um lugar privilegiado.

O mais interessante é que essa ideia da verdade lá fora, faz como que crie-se uma competição entre as pessoas de quem é mais PERTO dessa verdade.

As pessoas não sentam, portanto, para conhecer a verdade juntas, mas cada um procura reafirmar uma posição diante da proximidade da verdade lá fora!

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Isso cria uma briga de egos para se chegar mais perto da verdade que existe lá fora. E é o ponto principal, o nó número 1 que precisa ser desarmado para se começar qualquer projeto de inovação, ainda mais disruptiva.

Tal visão nos leva a conceber a realidade como algo estático lá fora, que eu posso afirmar que consigo vê-la um pouco melhor, basta você se aproximar do meu ponto de vista, da minha janela, da minha luneta.

Não se conversa para se procurar a realidade, pois ela está lá fora, mas para ver quem cede e aceita ficar mais perto da janela do outro, o que é uma briga de poder!

Isso vai criando um impeditivo de comunicação e de diálogo, pois estabelece-se um ponto qualquer em algum lugar, como se fosse o caminho ao Mágico de Oz, que alguém está mais a frente ou menos a frente.

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A discussão que promovemos é diferente deste senso comum AMPLAMENTE DIVULGADA E INCENTIVADA NA SOCIEDADE.

Defendo que pouco importa se existe ou não uma realidade lá fora, pois isso é uma briga que não tem fim, pois fica difícil provar algo tão abstrato. Porém, é muito mais fácil demonstrar por exemplos históricos de que, independente ter ou não ter uma realidade lá fora:

A nossa espécie, por suas limitações, não consegue agora e nunca conseguirá definir o que é ou chegar na realidade, pois nossa visão individual é falha, bem como a coletiva. O que era a terra plana virou quadrada. O que era Adão e Eva virou evolução da espécie. 

Com muito esforço, portanto, nossa espécie só será capaz de conseguir enxergar alguns pontos parciais da realidade, que se alterarão, conforme novas mentes tragam ideias novas, novas máquinas nos permitam ver melhor ou que se compartilhe mais pontos de vista, reduzindo a nossa taxa individual e coletiva de ilusão.

Assim, a ideia de que há um caminho que nos leva a realidade final, sólida e definitiva deve ceder lugar a uma realidade sempre provisória, líquida e parcial, que tem no diálogo um dos instrumentos principais de aproximação. O outro deixa de ser um inimigo e passa a aliado!

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Essa visão distorcida hegemônica que temos da realidade arrisco dizer que é fruto da Ditadura Cognitiva Impressa-Eletrônica que estamos saindo, na qual se consolidou mais e mais um centro emissor de realidade em que todos miram e querem se aproximar.

Isso é reforçado na atual Escola 1.0, onde existe um material didático central, que contém a “realidade”, no qual você estuda para decorá-lo e é testado para saber se você se aproximou dela, ou não.

Quanto mais você decorou aquele conteúdo e conseguiu repeti-lo mais você está próximo da realidade e mais nota você vai tirar, acima dos seus colegas de classe.

Nós, no fundo, fomos incentivados a sermos os donos da verdade!

Você não conversa com seus colegas para entender o que está acontecendo, apenas ouve o que as autoridades têm a lhe dizer sobre essa pseudo-realidade sólida existente.

A ideia, entretanto, de que a realidade é líquida para a nossa espécie nos leva a perceber que ela é:

  • – histórica;
  • – intangível;
  • – fluída.

Quanto mais conseguimos conversar e criar mecanismo para aumentar a taxa de eficácia da nossa percepção mais reduziremos nossa taxa de ilusão.

Tal visão da realidade líquida e não sólida passou a ser um diferencial importante para as organizações, pois estamos saindo de uma fase na qual o Pêndulo Cognitivo está em sua fase de expansão com o aumento da Taxa de Horizontalização dos Canais.

Em tais momentos, temos um aumento radical da taxa de inovação da sociedade, o que faz com que as organizações precisem de profissionais com uma capacidade de abstração maior, uma visão de futuro mais precisa e de desconfiar e não se agarrar em verdades absolutas, pois o mundo tem se tornado, em função da Expansão Cognitiva muito mais líquido do que ele era.

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As organizações deixam nessa fase de expansão de ser, assim,  consolidadoras e repetidoras de processos, produtos e serviços para investir mais e mais em ações inovadoras e criadoras destes.

A inflexão principal desta guinada de um profissional antes e depois do que chamo desse curso de inovação disruptiva é a capacidade de perceber E SENTIR que a realidade é líquida, mutante, incerta, que exige um esforço de não acomodação e pede humildade para que os pontos de vista se somem, através do diálogo, para ver melhor algo sempre turvo.

Esta é a base para a abertura para a colaboração e a participação, sem isso os egos mandam na festa e não se pode pensar projetos colaborativos digitais.

É isso, que dizes?

 

One Response to “Nossa espécie nunca saberá o que é a realidade!”

  1. Teresa Mafra disse:

    Acredito que a realidade é temporal e se apresenta dependendo do contexto cultural, social e político. O nível de percepção desta depende basicamente da capacidade cognitiva e da vivência de cada indíviduo. Acho que trabalhar em equipe é uma saída para se aumentar o ângulo ou campo de visão para se enxergar o que é real e o que é imaginário. Buscar pontos de interseção entre os argumentos e identificações entre os indívíduos e suas idéias ajuda nesse processo! Claro, sempre com motivação e coragem. Adorei o texto líquido!

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