Meu tio na contramão

É normal um livro virar filme, mas não o contrário. Quando acontece, o mais comum é que as edições sejam subprodutos de uma produção de sucesso, com autores escrevendo sob encomenda para abastecer os fãs do cinema. É caso, por exemplo, de O Segredo do Abismo, de Orson Scott Card (Record, fora de catálogo), baseado no filme homônimo de James Cameron. O diretor, aliás, já anunciou que pretende lançar um romance a partir de Avatar, desta vez escrito de próprio punho.

Caso bem diferente é o de Jean-Claude Carrière. O francês, que já havia lançado uma versão em livro condensada do Mahabarata a partir da adaptação feita por ele mesmo para a minissérie dirigida por Peter Brook em 1989, também fez um romance a partir do filme Meu Tio, de Jacques Tati, de 1958. O livro, ilustrado por Pierre Étaix, sai mês que vem no Brasil pela Cosac Naify, com tradução de Paulo Werneck (aqui).

A edição cria uma situação curiosa: se a adaptação de um bom livro para o cinema nos deixa quase sempre desconfiados, o caminho inverso não é, embora raro, menos temerário. No caso de Meu Tio, exige um talento (e coragem) maior que o habitual para fazer a passagem de linguagem para outra, sem estragar o encanto do original.

Revejam as (fabulosas) cenas iniciais do filme clicando na imagem acima e tentem imaginar como Carrière fez para transformá-las em literatura. Dá para ter uma boa ideia do tamanho da encrenca.

Daqui uns dias volto com os trechos correspondentes do livro, para mostrar o resultado.

5 Replies to “Meu tio na contramão”

  1. Arnaldo Jabour vinte anos depois de ter feito o filme Eu Sei Que Vou Te Amar, lançou o livro de mesmo nome contando novamente a história. Neste caso o criador refez a criatura o que não me deixou tão desconfiados assim. Mas no caso de um escritor adaptar um filme eu acho que a desconfiança seja maior do que as costumeiras adaptações de livros. Principalmente se tratando de Meu Tio, um filme tão silencioso e tão visual. Uma encrenca das grandes com certeza.

  2. “Meu tio” marcou fortemente a minha infância. O curioso é que minha irmã mais velha – quem me levou ao cinema para assistir – na época me preveniu, dizendo que era uma história triste. Foi surpreendente – e marcante – me deparar com aquela alegria singela do Tati (embora, claro, haja certa melancolia no protagonista)…

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