Guerra na Síria resulta da luta pelo controlo do gás e do petróleo do golfo

por Rui Sá, João Fernando Ramos

A Síria está no centro de uma complicada teia de interesses. A Rússia mantém o papel principal, numa equação onde o Irão ganha peso e a Turquia aparece como dado a ter em conta.
"Não há uma dimensão ideológica que mova forças. Há sempre um interesse material por detrás", lembra Felipe Pathé Duarte, que recorda como os negócios do petróleo e do gás natural resultaram na guerra que devasta há cinco anos a Síria.
Manuel Loff, lembra que é o entendimento recente entre a Rússia e a Turquia, dois dos países com interesses antagónicos nos gasodutos que se projetam para a região, que pode vir a desenhar uma solução para o conflito.

O embaixador russo na Turquia foi abatido a tiro por um polícia turco anti-motim enquanto inaugurava uma exposição em Ancara.

O atacante, gritou : "Alá é Grande, Não esqueçam Alepo, não esqueçam a Síria".
Moscovo reage com cautela falando num ataque terrorista.

Felipe Pathé Duarte e Manuel Loff não acreditam que este seja um episódio capaz de deflagrar um conflito de grandes dimensões mas lembras que "se a História não se repete, rima", lembrando o assassinato em Sarajevo do arquiduque Francisco Fernando que acabaria por resultar na I Guerra Mundial.

NA verdadeira frente de batalha a retirada de civis de Alepo Leste foi retomada. A ONU vai enviar observadores para controlar a operação.

A resolução, apresentada pela França, foi negociada com os russos nos bastidores das Nações Unidas, e aprovada por unanimidade.

A cidade cercada há cinco anos foi o berço da revolta contra o regime de Bashar Al.Assad.

Estima-se que neste momento 1500 a 10 mil combatentes estejam ainda nos escombros de Alepo Leste juntamente com cerca de 30 mil civis.

As raízes do conflito surgem em 2009. Bashar Al-Assad quer desenvolver a Síria. Avança com um plano: tornar o país uma plataforma para pipelines e gasodutos.

As primeiras negociações envolvem o Quatar, a Arábia Saudita, a Jordânia e a Turquia, a partir de onde o gás e o petróleo chegariam ao ocidente.

Mas há uma segunda via. Envolve o Irão, o Iraque e dispensa todos os outros. Há acordo. A solução recebe luz verde. A Rússia assume a construção e o controlo do projeto.

O chamado "gasoduto Islâmico" era uma forma de a Rússia "contrariar as pretensões das monarquias do Golfo que desde sempre quiseram controlar o comércio dos hidrocarbonetos", explica Manuel Loff.

Bashar Al-Assad torna-se mal amado. A revolta eclode em março de 2011. Milícias salafitas financiadas pelos países do golfo pegam em armas em Alepo.

A norte a Turquia dá apoio a combatentes sunitas para varrer do mapa curdos e alauítas, a etnia de que faz parte o presidente sírio.

O bode expiatório para todas as intervenções é o Daesh - O Estado Islâmico do Iraque e da Síria, que desde 2004 ganha terreno na região.

Publicamente o Ocidente entra na guerra por causa dele, a Rússia também...

Na realidade os Estados Unidos envolvem-se para apoiar aliados fundamentais no Iraque - Os curdos.

Os Russos para defender o regime que lhes concede a exploração de gás natural no off shore sírio.

Os países europeus querem vingar Paris e Bruxelas, e garantir um lugar à mesa de quem decide o futuro do Médio Oriente que lhe fornece energia.

Há uma guerra por procuração que dura há cinco anos. Terá feito entre 300 e 500 mil mortos, dependendo de quem contabiliza.

Os seis milhões e meio de deslocados é um número sem contestação por nenhuma das partes.
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